O launeddas é um instrumento da família dos aerofones constituído por 3 tubos de diferentes dimensões dotados de palhetas simples. É um instrumento de sopro polifónico, que poderá ter sido um dos precursores do moderno clarinete, e é tocado utilizando a técnica da respiração circular.
Um dos tubos (o maior) funciona como pedal harmónico, emitindo sempre a mesma nota, de forma constante, e os outros dois são responsáveis pela melodia.
Este instrumento é muito popular na Sardenha, onde tem um papel central no folclore e na música tradicional e religiosa local.
Numerosos tocadores de launeddas costumam acompanhar procissões religiosas trajados a rigor. Na figura seguinte podemos ver um cortejo de tocadores de launeddas que seguem na dianteira de uma procissão durante a Festa de Santo Efísio em Cagliari.
Talvez pela sua portabilidade e grande sonoridade, este instruento era também bastante utilizado por pastores. Na imagem seguinte podemos ver um pastor da Sardenha tocando Launeddas, vestido com o trage tradicional associado à pastorícia da região.
Pensa-se que a origem deste instrumento remonte ao Egipto antigo pois um instrumento chamando memet (um clarinete duplo) que aparenta ser o precursor dos Launeddas está representado em alguns frescos deste período.
Festival do Vale. Fresco da tumba de Nakht no templo de Amon (c. 1543-1292 A.C.). Tebas, Egipto.
Outro precursor deste instrumento poderá ter sido o aulos originário da Grécia antiga. O aulos era composto por dois tubos que terão sido sobretudo dotados de palhetas duplas, tal como o moderno oboé. No entanto, pensa-se que também existiriam aulos com tubos dotados de palhetas simples.
O aulos encontra-se representado amiúde na arte grega, etrusca e romana antigas, destacando-se algumas peças de cerâmica, mosaicos, sarcófagos, esculturas e altos relevos.
Um dos mais antigos vestígios de um instrumento musical muito semelhante aos modernos launeddas remonta à Idade Média com a representação de um triplo clarinete nas Cantigas de Santa Maria.
Músicos tocando clarinetes triplos (launeddas). Ilustração do Códice E das Cantigas de Santa Maria (séc. XIII). Biblioteca de El Escorial, Espanha
Há também vestígios da presença de um instrumento muito semelhante às launeddas na Irlanda e na Escócia durante a Idade Média como atestam as imagens seguintes.
Músicos tocando arpa e launeddas. Alto relevo em pedra na Torre de Lethendy (séc. X). Lethendy, Escócia
Músico tocando, aparentemente, um triplo clarinete. Alto relevo em pedra no mosteiro de Clonmacnoise (séc. X). Condado de Offaly, Irlanda
O vestígio conhecido mais antigo das Launeddas na Sardenha, e até na Europa, é, sem dúvida, o famoso Bronzetto Itifallico de Ittiri, uma escultura originária aproximadamente do período compreendido entre os séculos IX e VI A.C.
Músico tocando um instrumento precursor das launeddas. Escultura em bronze descoberta em Ittiri na Sardenha (c. séc IX-VI A.C.). Museu de Cagliari, Sardenha, Itália
O launeddas acabaria por se tornar o instrumento emblemático da sardenha, tendo um lugar de destaque não só na música e folclore da região como também em cerimónoas religiosas.
Pastor tocando launeddas. Postal antigo da sardenha
Músico envergado o trage tradicional e tocando launeddas. Selo italiano.
A idade de ouro das Launeddas ocorreu nos anos 30 em que Efísio Melis e Antonio Lara atingiram um grande reconhecimento a nível mundial.
Efísio Melis (1890-1970)
Antonio Lara (1886 - 1979)
Mais recentemente, na década de 90, Dionigi Burranca deu também um grande contributo para o reconhecimento mundial dos launeddas ao fazer várias parcerias com músicos de renome oriundos de outros géneros musicais das quais se pode destacar a com o saxofonista de jazz americano Dave Liebman.
Dionigi Burranca (1913-1995)
Talvez o mais famoso tocador de launeddas vivo seja Luigi Mai.
Luigi Lai (1932)
Na Sardenha, as principais festividades em que os launeddas têm um papel de relevo são o Festival das Launeddas que ocorre a 7 de Agosto em Villaputzo e a festa de Santo Efísio que ocorre entre 1 e 4 de Maio em Cagliari, Capoterra, Sarroch e Pula.
Outro dos expoentes máximos da cultura musical da Sardenha é sem dúvida os Tenores di Bitti. Trata-se de um canto polifónico cuja sonoridade tem muitas semelhanças com a dos launeddas.
O koto é um instrumento musical tradicional japonês de cordas dedilhadas. É actualmente o mais popular dos instrumentos tradicionais japoneses sendo, inclusive, considerado o instrumento tradicional nacional do Japão.
Trata-se de um cordofone da família das harpas, muito semelhante à cítara, constituído por um corpo com cerca de 180 centímetros formado por duas pranchas de kiri (madeira extraída de árvores originárias da China e Japão do género Pawlownia) laqueadas, que funcionam como caixa de ressonância, e por 13 cordas de seda ou nylon presas a duas pontes fixas localizadas nas extremidades. A afinação das cordas é efectuada através do posicionamento de 13 trastes moveis (um por cada corda) que podem ser movidos mesmo durante a execução de uma música.
Koto tradicional de 13 cordas
Actualmente é um instrumento maioritariamente tocado por mulheres sendo o seu ensino nas escolas do Japão tão popular como o do piano ou do violino.
Mulher vestida com um kimono tradicional tocando koto
Escola de koto de Yokohama cujo programa abrange o 1º,2º e 3º ciclos incluindo o ensino superior.
Existem algumas variações deste instrumento, como os kotos de 17 cordas, de 21 cordas e até de 80 cordas. Estes modelos foram desenvolvidos para orquestras de koto de forma a poderem produzir uma maior gama de notas na escala harmónica, muito particularmente nos sons mais graves.
Orquestra de koto que inclui kotos de 13, 16, 21 e 80 cordas.
Descobri este instrumento por volta do início da década de 90 quando requisitei um CD da biblioteca municipal de Vila Franca de Xira - "Koto Music.: Tadao Sawai plays Michio Miyagi", sem fazer a mínima ideia do que se tratava. Foi nessa altura que comecei a interessar-me por World Music e tinha o hábito de procurar ouvir a música tradicional, mas nova para mim, oriunda dos vários cantos do mundo. Este interesse acabaria por se transformar numa paixão que me acompanhou até hoje.
Na altura fiquei viciado no CD e no som muito peculiar do koto, o qual, a meu ver, faz parte da identidade cultural do Japão, que, confesso, não conheço em profundidade. De facto, basta-nos ouvir uma corda deste instrumento vibrar para sermos catapultados imediatamente para o Japão medieval e para o universo mítico dos samurais, dos shoguns, dos senhores da guerra e das gueixas.
O meu interesse no CD não se resumia à música pois na altura era, e ainda sou, um grandessíssimo admirador de cinema Japonês, nomeadamente de realizadores que ao longo da sua obra se debruçaram muito sobre o
Japão feudal, como Akira Kurosawa, do qual posso destacar
títulos incontornáveis do cinema universal como Rashõmon, às portas do
inferno (1950), Os sete samurais (1954), Trono de sangue
(1957), Kagemusha, a sombra do guerreiro (1980) e Ran, os senhores da guerra (1985); e Kenji Mizogushi com o seu magnífico Contos da lua vaga (1953).
Penso que a maioria destes filmes, pelo menos os mais antigos, vi-os pela primeira vez nos saudosas ciclos de cinema da RTP 2 - "Cinco noites, cinco filmes".
Cena do filme Rashõmon, às portas do inferno (1950) de Akira Kurosawa. Na fotografia podemos ver Toshiro Mifune (a esquerda) e Machiko Kyō (à direita).
Cena do filme Ran, os senhores da guerra (1985) de Akira Kurosawa. Na fotografia podemos ver o inesquecível Tatsuya Nakadai (à direita) no papel de o senhor da guerra Hidetora Ichimonji e Shinosuke Ikehata (à esquerda) no papel de Ryoami (o bobo).
Cena do filme Contos da lua vaga (1953) de Kenji Mizogushi. Na fotografia podemos ver Masayuki Mori (à esquerda) no papel de Genjurô e Machiko Kyô (à direita) no papel de dama Wakasa.
Estes filmes têm uma banda sonora magistral e recordo-me em particular de uma das cenas finais de Ran, os senhores da guerra, que não encontrei no Youtube, em que um cego, mutilado, e último descendente de uma família que foi anteriormente muito poderosa, e que acabou completamente destruída por Hidetora, fica sozinho e esquecido à beira de um penhasco, nas ruínas do, outrora imponente, castelo da sua família, tendo deixado cair no precipício a sua preciosa flauta, que era a única companhia e único prazer que ainda lhe restava na vida. O som de uma flauta tradicional japonesa acompanha toda a cena ajudando a reforçar o ambiente dramático e desolador. Apesar de não me lembrar de ouvir koto nas bandas sonoras destes filmes, o gosto que desenvolvi, ao vê-los, pela sonoridade e ambiência da música de raiz tradicional japonesa contribuiu em muito para a minha curiosidade pelo koto. Deixo aqui o link para um vídeo do youtube referente à banda sonora de Ran, os senhores da guerra, da autoria de Tōru Takemitsu.
A origem do koto japonês remonta aos séculos VII e VIII, período em que o guzheng (um instrumento chinês muito semelhante e mais antigo) foi introduzido no Japão a partir da China.
Nessa altura, o instrumento tinha apenas 5 cordas e era desprovido de trastes moveis, mas, posteriormente, foi sofrendo, ao longo do tempo, desenvolvimentos que culminaram na configuração actual.
O koto está presente amiúde na arte e literatura japonesa desde a antiguidade, podendo-se destacar as pinturas em blocos de madeira representando mulheres tocando koto, e o grande clássico da literatura japonesa e universal, "O romance de Genji", escrito no início do século XI e atribuído a Murasaki Shikibu .
Jovem mulher segurando um koto. Pintura em madeira de 1800 da autoria de Katsushika Hokusai.
Mulher tocando koto. Pintura de 1878 de Hasegawa Settei.
Mulheres tocando koto. pintura em madeira de 1896 pertencente à série Chiyoda No Ooku.
Por sorte, consegui comprar, há uns 4 ou 5 anos, os dois volumes de "O romance de Genji" editados pela Exodus na feira do livro de Lisboa, a menos de metade do preço. Não sei se é a melhor edição, no que à tradução diz respeito, mas, pelo menos é uma edição com capa dura, com boa qualidade gráfica e o preço foi bastante em conta.
Tive imensa sorte com o primeiro CD que ouvi de koto pois Michio Miyagi (1894-1956) e o seu pupilo mais famoso, Tadao Sawai (1937-1997), são dois nomes incontornáveis da música produzida para e por este instrumento.
Michio Miyagi foi o grande mestre de koto, sendo-lhe atribuído o epíteto de grande revolucionador da composição de música para este instrumento, e tendo inclusive desenvolvido várias versões do mesmo. Estará talvez para o koto como o Astor Piazzolla está para o acordeão e para o tango, e como o Carlos Paredes está para a guitarra portuguesa. O facto de ter perdido completamente a visão aos 8 anos ainda lhe confere uma maior aura de genialidade.
Michio Miyagi (1894-1946) tocando koto.
Outro grande mestre de koto foi Tadao Sawai, que é, talvez, o maior expoente da moderna música de raiz tradicional composta para este instrumento, tanto enquanto compositor como enquanto intérprete.
Tadao Sawai (1938-1997) tocando koto.
Deixo aqui alguns dos exemplos mais interessantes e representativos que
encontrei de música de raiz tradicional japonesa em que o koto tem um
papel central.
No vídeo seguinte, Sachiko Yoshihara, envergando um kimono tradicional japonês, interpreta "Sanka", uma ode à natureza, às pessoas e às artes, composta por Tadao Sawai em 1978.
No vídeo seguinte, Endo Chiaki interpreta "Gaku", uma música composta também por Tadao Sawai.
No vídeo seguinte, uma orquestra de koto interpreta "Homura", uma peça com uma sonoridade mais contemporânea composta por Tadao Sawai.
Os 2 vídeos seguintes referem-se a músicas que fazem parte do primeiro CD que ouvi de koto. ambas foram compostas por Michio Miyagi e interpretadas por Tadao Sawai.
O vídeo seguinte é "Rinzetsu (Tegoto - 3º movimento)", música composta por Michio Miyagi em 1946 e interpretada por Tadao Sawai, cuja fotografia aparece no vídeo.
O vídeo seguinte é "Onoe no Matsu", música composta por Michio Miyagi em 1919 e interpretada por Kazue Sawai (koto) e Tadao Sawai (shamisen e voz). Shamisen é um cordofone tradicional japonês parecido com o banjo.
No vídeo seguinte podemos ouvir mais uma composição de Michio Miyagi (1919), Aki no shirabe (som de outono) interpretada por Rié Yanagisawa (koto, shamisen e voz) e Clive Bell (shakuhachi). Shakuhachi é uma flauta de bambu tradicional japonesa.
Interpretada também por Rié Yanagisawa (koto, shamisen e voz) e Clive Bell (shakuhachi) podemos ouvir uma das mais antigas composições conhecidas para koto, que remonta ao século XVIII, de autor desconhecido - Kurokami (cabelo preto).
Talvez a mais famosa intérprete de koto viva seja Kazue Sawai, que foi também aluna de Michio Miyagi e casou com Tadao Sawai. Ela tem-se destacado principalmente no âmbito da música erudita contemporânea e em improvisação livre, tendo colaborado por exemplo com John Cage. No vídeo seguinte podemos vê-la a tocar umjushichigen (koto com 17 cordas com um som mais grave conhecido também como bass koto).
Outra das tendências actuais da música composta para orquestra de koto traduz-se numa notória aproximação à sonoridade ocidental, designadamente, à música erudita clássica e contemporânea e até ao pop/rock.
Nos dois vídeos seguintes pode-se ver Soemon, um ensemble de koto, interpretando em concerto "Esoragoto" e "Yume no Wa", composições de mais um membro do clã Saway, Hikaru Sawai, que é filho de Tadao e Kazue Sawai.
Ainda o grupo Soemon interpretando, em concerto, "Ichimen Moegiro", uma composiçãpo de Hiroshi Yoshimura.
Gosto pouco destas abordagens quase pop da música para koto mas decidi colocar aqui os vídeos anteriores porque são bastante representativos desta nova tendência.
Neste vídeo o New Koto Ensemble of Tokyo interpreta magistralmente o "Concerto de Inverno" de Vivaldi. Neste trabalho podemos ver como o koto se adapta bem à música erudita clássica.
O site The International Shakuhachi Society disponibiliza, de forma muito organizada, um grande volume de música tradicional japonesa e, apesar de se centrar principalmente na flauta tradicional de bambu japonesa (Shakuhachi), tem uma considerável colecção de música composta para ou tocada por koto. Tem também muita informação sobre os principais compositores e interpretes de koto, incluindo listas de obras, edições discográficas, cronologias, biografias, etc.
Descobri este curioso instrumento há umas semanas quando vagueava pela web e me deparei com o vídeo de um músico de rua que parecia estar a tocar uma espécie de cataplana. O som era diferente de tudo o que já tinha ouvido anteriormente, apresentando, no entanto, algumas semelhanças ténues com um metalofone, apesar de ser tocado com as mãos nuas e tendo o instrumento no colo ou entre as pernas como um jambé.
Pertence ao grupo dos idiofones e foi criado em 2000 por Felix Rohner e Sabina Schärer (PANArt Hangbau AG) em Berna, Suíça. O instrumento foi apresentado pela primeira vez em 2001 na Musikmesse Frankfurt na Alemanha.
Desde esse momento a sua evolução foi assinalável, tendo sido desenvolvidas várias versões entre 2001 e 2010.
Apesar de ser um instrumento bastante recente já granjeou uma considerável popularidade existindo várias bandas focadas exclusivamente nele, como é o caso dos Hang Massive. É utilizado também em grupos de estilos musicais diversos como o jazz, world music, pop e música contemplativa e de relaxamento. pela sua novidade e facilidade de transporte e de utilização, tem vindo também a ser muito utilizado por músicos de rua.
Deixo aqui os links para algunas vídeos que me parecem representativos do que de melhor encontrei no Youtube relativamente ao instrumento.